segunda-feira, junho 13, 2005

Bom dia

“Olhaste para mim hoje. E viste-me. Os teus olhos surpreendidos pela surpresa do sorriso dos meus. Os meus olhos que te sorriram pelas tréguas que o coração declarou, num ultimato que se tem repetido no tempo.

Tu, desprotegido, numa solidão de nudez. Eu, segura, numa outra solidão que me faz forte. A minha solidão e a tua, unidas, durante algumas gotas de tempo, para deixarem de ser solidão e passarem a ser nada. Nada para além de mim e de ti, dois eixos unos de cosmos que se alinharam num só momento, por piedade ou por acaso, já não importa.

Ao choque que te causou o meu atrevimento seguro, seguiu-se o teu sorriso. Tímido e logo universal. Invadindo todo o espaço, sé eu e o teu sorriso.

E os teus olhos… Olhos que eu havia perdido num tempo que já não é hoje nem vai ser amanhã. Olhos que eu havia perdido num tempo que já foi. Olhos que tenho encontrado vazios, frios, inertes, como duas estampas sobre o lugar onde antes viviam dois relâmpagos de água.
Senti-os de novo hoje, como tesouro encontrado quando já não se procura. Confiaste-me os teus olhos e eu soube acolhê-los nos meus, com a simplicidade que um tesouro merece.

Viste-me hoje, como pela primeira vez. Como fazias todos os dias no tempo que já não é tempo. E é mesmo a primeira vez que me vês. Porque eu não sou a mesma.

Mas tenho o meu olhar guardado em ti, seguro por não saberes que o tens contigo. Entrega-mo quando o tempo determinar que hoje é um bom dia para me devolveres o coração.”

Hoje foi um bom dia… porque não há noite tão longa que não veja o Sol nascer.

segunda-feira, junho 06, 2005

Sono

Durante aquela hora em que te aconchegaste no meu colo descansei mais do que em todo o tempo que já percorri. Sentir-te, pequenina, nos meus braços não foi sentir-te frágil nem sentir-me impaciente. Foi sentirmo-nos magia, luz invísivel de um céu estrelado.

Durante aquela hora deixaste-me ser o que sou. Foste tu que me carregaste no colo. Eu deixei-me abandonar nos teus braços como planície. Voltei a ter no pescoço aquele irresistível perfume a bebé. Voltei a ter no olhar a confiança de quem não vê no mundo razão para se proteger. Voltei a ter nas vozes o meu maior laço com os que amam. Voltei a não perceber o que dizem. Voltei a sentir como dizem. Voltei a ficar nua, despida, espontânea, natural, embrulhada nesta pele que me dá forma.

Ao meu colo foste tu a que, equilibrada nuns quaisquer tacões, me embalaste num sono que durou a minha vida inteira. Volto atrás e deixo que agora semi-cerres o céu dos teus olhos e sonhes o sonho que já foi meu, afilhada.

quinta-feira, junho 02, 2005

Nós

"Sei que ainda guardas mil estrelas no colo
Eu, tantas vezes, ainda acredito que mil estrelas são todas as estrelas que existem"

Porque eu não sei quantos oceanos tiveste que atravessar na tua viagem para chegar até mim, mas sei que guardo comigo o momento em que te fizeste onda e me deixaste para sempre no corpo este cheiro a mar.