domingo, fevereiro 12, 2012

Avó

Soou um pi e o mostrador digital contou mais um número vermelho.

Somos nós. Ora bem (olhando a senhora ao seu lado) queremos 2 frangos. Partidos aos bocadinhos, não é, avó?

A senhora, pequenina e magnânima na sua simplicidade, acenou um sim silencioso. Não falava e parecia deslocar-se sem precisar de mexer qualquer parte do corpo. A serenidade tinha raízes naquele ser humano e, com atenção, era possível vê-la a estender os ramos viçosos para os que a rodeavam. O sorriso era o do neto. Embora menos entusiástico, exalava a mesma doçura.

O rapaz, na idade das saídas nocturnas, dos jogos, das aparências e das raparigas, aparecia como personagem errado no enredo certo. Era com deleite que dizia nós. Dirigia à avó perguntas inúteis (a utilidade fora-se-lhes assim que ele lhes adivinhara as respostas) com o orgulho vaidoso de quem deseja ser visto ao lado de um mito.

Naquele momento, naquele talho, todos os que esperavam a vez (e mesmo aqueles cujas vontades carnais estavam já de saída) invejaram secretamente a simplicidade feliz dos outros dois.

Uns pronunciaram em surdina, com a boca cheia de orgulho, avó.

Outros, fizeram-se serenos e fingiram ser. Só.