Por todas a vezes em que procuro a nossa imagem, parada no tempo, por entre estas árvores...
Porque hoje tudo parece ganhar um novo sentido.
"não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. eu não sei responder a todas as perguntas do mundo. pousa os lábios sobre a página. devagar,muito devagar. vamos beijar-nos."
Se partires, não me abraces- a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.
Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota de um navio. Se partires não me abraces -
o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém- longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera que a dor desapareça.
Se me abraçares não partas.
Maria do Rosário Pedreira