sexta-feira, maio 21, 2010

Mentira(s)

A primeira mentira saiu assim. 

Repentina. 

Extravagante. 

Catapultada por uma outra língua (que não a sua) na sua boca, como se ao longe se tivesse ouvido um qualquer tiro de partida-largada-fugida. 

Primeiro franziu o sobrolho, como quem estranha algo entranhado. Depois, como não notasse qualquer estranheza no interlocutor, depois de verificada a patente de línguas e entranhas suas, prosseguiu a conversa, tranquilo.

Verdade, verdade, verdade, verdade, verdade, verdade,

mentira de novo. 


Levou a mão mental à boca, arregalou os olhos interiores, surpreso. O interlocutor dava seguimento ao discurso, naturalmente, sem lhe detectar as sombras no rosto. No corpo, na mente, na alma. 


Assim discreto, quase dengoso, quase sensual, veio aquele amo-te. Não sabe como. Nem porquê. Só sabe que veio do mesmo lugar de todas as outras mentiras.

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