sexta-feira, agosto 13, 2010

Desejo

Cantaram os parabéns à menina em várias línguas, como poliglotas que eram em idiomas inventados de palreios, trejeitos, caretas e gargalhadas.

Eram tantos e tantos. Eram os frutos de um amor ancestral e os seus amores e os seus próprios frutos, alguns já com amores e frutos também, tal era o sucesso da combinação da tepidez destes e da frescura daqueles.

Chamavam-lhes família, por inerência de laços, mas eram mais uma tribo, espalhados que estavam pelo mundo, ou por parte dele.

As palmas sobrepunham-se aos eh's, uma e outra vez, com pretensos sotaques idiomáticos, felicitando os seis anos da menina que, reticente primeiro, determinada depois, trincou a vela cor-de-rosa, inocente superstição que um produtor de cera, também ancestral, também divertido, terá inventado.

Pede um desejo!

As vozes erguiam-se em pedidos ansiosos, quase imperativos, como se o desejo da criança fosse aparecer ali mesmo, de repente, diante dos seus olhos, desfeita a nuvem de fumo e o puuufff, reconhecida onomatopeia infantil.

A menina fecha os olhos (todas as crianças sabem que é ritual obrigatório no pedido) e logo os abre, sorridente.

O que pediste?

A mãe, instigadora de revelações, não tarda a ser vaiada pela curiosidade violadora da privacidade infantil e é num murmúrio envergonhado e ternurento de pequeno deus que explica.

Se eu não souber, não o posso tornar realidade.

1 comentário:

Mónica disse...

Me gustó mucho . Yo también tengo una niña de 6 años y si pidiese un deseo me gustaría saberlo para intentar que se le hiciese realidad . Te quiero mucho .Gracias .