Chegou a casa. Bateu a porta, lançou as chaves na direcção da tina, sem se importar com o tilintar turbulento do bronze de umas contra o bronze da outra. Encostou a bengala ao sofá. Olhou-a.
Ela, olhos fixos num horizonte imaginário, não o viu. Assim era sempre. Alheada, habitante solitária de uma bolha flutuante.
Não deixou de a olhar, como se essa fosse a derradeira forma de contacto, última esperança de uma ligação suspensa no tempo. Na face dura, ele trazia os sulcos talhados por discussões, sorrisos e esperanças. Há muito que ele deixara de ser ele para passar a ser monumento do amor a ela.
Levantou-a, falou-lhe de tempos futuros e ela ouviu tempos passados. Vestiu-lhe o casaco, penteou-lhe os cabelos cor-de-cinza e, guardando-lhe o braço debaixo do seu, saíram.
Na rua, passeava ao ritmo dela e nunca deixava de falar, sem a olhar, imaginando a resposta, a nova pergunta, a gargalhada.
De súbito, à sua frente atravessou-se um rapaz, que corria num entusiasmo veloz em direcção a uma rapariga de sorriso tímido e coração aberto. Beijaram-se.
Lon
ga
men
te.
O beijo não acabava e ele, sem a olhar, preocupava-se que a cena fosse pouco própria para os olhos dela. Não viu, por isso, que ela, por um segundo, o olhou e lhe disse, sem falar
Desculpa.
1 comentário:
Así me gusta , que empieces bien el año .Muy bonito como siempre .Besos de tu prima que está deseando verte. Mónica .
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