segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Alturas

Tomás era grande demais para o amor. No mais literal dos sentidos.

A dissonante distribuição anatómica dos seus 205 centímetros tornavam-no uma opção pouco interessante para o género feminino, cujo soberbo coração não era de todo alheio às questões mais práticas de uma vida a dois.

Tomás invejava o companheirismo que observava na vida alheia sem, no entanto, sentir pena de si próprio. Encarava a cruzada sentimental como uma ambição e não como uma necessidade. Foi quando conheceu o humor vivo e a determinação dela que a ambição se tornou batalha e o condicional, imperativo.

Experimentou técnicas bárbaras para encolher e não houve substância química ou natural que o seu organismo não tivesse processado na vazia tentativa de deixar de a olhar da incontornável perspectiva altiva.

Não soube qual das mezinhas resultou ou qual das insuportáveis torturas se tornou justificável, mas, um dia, acordou mais pequeno. Não era uma diferença notória mas ele, conhecedor experimentado da geografia do seu corpo, percebeu-a.

Não tardou muito até que todos os que rodeavam Tomás notassem o seu inexplicável encolhimento. Também ela notou e essa consonância de tamanhos gerou uma agradável sensação de bem-estar no um que eles eram quando eram dois.

Tomás amou-a e amou-se até ao dia em que acordou, ao lado dela, e se notou mais pequeno.

A dissonância voltara e Tomás não voltou ao corpo dela, nem quando passou a caber na palma da sua mão.

1 comentário:

Mónica disse...

Gracias por el esfuerzo para que tuviera un regalo de cumpleaños . Te quiero .