A mesa era longa de gente e de afectos. Comiam-se histórias de feitos passados, bebiam-se piadas e discussões e nos ventres de cada um soavam gargalhadas digestivas. Assim são as reuniões que se fazem esperar. Da ansiedade ou falta dela nasce o desejo maior de querer e ser querido, de ouvir e ser ouvido.
Unidos por laços ditados pela genética, pela circunstância ou pela afinidade, os convivas brindavam, como brindam as pessoas alegres.
Ela entrou, suave. Não falou. Não sorriu. Não fosse a extraordinária força da sua simples presença e todos se teriam alheado daquela entrada, como de outros vaivéns decorridos na sala.
Apagaram-se as conversas, os sorrisos e o marulhar de copos e talheres. Fosse dia e ter-se-ia apagado o Sol também. Ninguém precisou de olhar para saber que, ao lado dela, na longa mesa de gente e afectos, tomou assento o peso negro e silencioso da ausência que nunca ali deixou de se fazer sentir.
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