Os passos da tia a entrar no quarto interromperam o diálogo entre o seu camionista-de-caixa-de-fósforos e o polícia-colher-de-pau. Sentado no chão, de pernas cruzadas, qual pequeno buda, analisou-lhe a expressão. Escura. Pesada. Feia. Como se tivessem desaparecido todos os berlindes do mundo.
Nunca mais vais ver a tua mãe.
Deu-lhe vontade de rir aquela tia louca que via demasiada televisão. A mãe não desaparece como os desenhos animados. Ele toca-lhe, ela abraça-o. Está sempre ali, a um ou dois passos. No máximo uns dez, quando ele vai brincar com o Miguel para o parque.
Ao ver o sorriso trocista que o miúdo esboça, a mulher exaspera-se, agarra-o pelos braços.
Nunca mais vais ver a tua mãe, percebes Pedrinho? Nunca mais.
E cai-lhe no colo pequeno, num choro compulsivo, sufocada por soluços guturais. Ele faz-lhe festas nos cabelos desalinhados, pacientemente. Pensa que às vezes também ele choraminga porque perdeu o Rufus. Mas depois a mãe encontra-o, ainda cão, ainda de peluche. E ele deixa de chorar. Assim que a mãe entrar no quarto a tia vai perceber que está a portar-se como um bebé.
Alguém entra. Mas não é a mãe. É o tio.
Está toda a gente na sala.
A tia levanta-se. Sacode as lágrimas como se sacode a chuva. O menino olha a camisola encharcada com algum aborrecimento mas encolhe os ombros. Os tios encaminham-se para a sala. Ele volta para trás, à procura do Rufus. A mãe não vai querer procurá-lo depois da chatice que vai ser explicar à tia que nunca desapareceu.
Na sala estão todos como a tia. De preto. Com aquela expressão. Escura. Pesada. Feia. O miúdo diz:
Vem aí a minha mãe.
E as mulheres rebentam num choro como o da tia. Os homens escondem os olhos com as mãos.
Vem mesmo. Ainda agora a vi a subir as escadas.
O tom já é mais alto. Mais zangado. A mãe não ia gostar mas ele também não gosta que não acreditem nele. Ninguém desvia o olhar, ninguém muda de posição. Não fosse o soluçar e pareciam estátuas.
Quando a mãe entrou na sala e mais ninguém a viu, decidiu que tinha que mudar de família.
Nunca mais vais ver a tua mãe.
Deu-lhe vontade de rir aquela tia louca que via demasiada televisão. A mãe não desaparece como os desenhos animados. Ele toca-lhe, ela abraça-o. Está sempre ali, a um ou dois passos. No máximo uns dez, quando ele vai brincar com o Miguel para o parque.
Ao ver o sorriso trocista que o miúdo esboça, a mulher exaspera-se, agarra-o pelos braços.
Nunca mais vais ver a tua mãe, percebes Pedrinho? Nunca mais.
E cai-lhe no colo pequeno, num choro compulsivo, sufocada por soluços guturais. Ele faz-lhe festas nos cabelos desalinhados, pacientemente. Pensa que às vezes também ele choraminga porque perdeu o Rufus. Mas depois a mãe encontra-o, ainda cão, ainda de peluche. E ele deixa de chorar. Assim que a mãe entrar no quarto a tia vai perceber que está a portar-se como um bebé.
Alguém entra. Mas não é a mãe. É o tio.
Está toda a gente na sala.
A tia levanta-se. Sacode as lágrimas como se sacode a chuva. O menino olha a camisola encharcada com algum aborrecimento mas encolhe os ombros. Os tios encaminham-se para a sala. Ele volta para trás, à procura do Rufus. A mãe não vai querer procurá-lo depois da chatice que vai ser explicar à tia que nunca desapareceu.
Na sala estão todos como a tia. De preto. Com aquela expressão. Escura. Pesada. Feia. O miúdo diz:
Vem aí a minha mãe.
E as mulheres rebentam num choro como o da tia. Os homens escondem os olhos com as mãos.
Vem mesmo. Ainda agora a vi a subir as escadas.
O tom já é mais alto. Mais zangado. A mãe não ia gostar mas ele também não gosta que não acreditem nele. Ninguém desvia o olhar, ninguém muda de posição. Não fosse o soluçar e pareciam estátuas.
Quando a mãe entrou na sala e mais ninguém a viu, decidiu que tinha que mudar de família.
4 comentários:
Para mim, o teu melhor texto*
Sublime...
Tão grande que inunda.
"decidiu que tinha que mudar de família."
Descobri hoje o teu blog, e tas-me a custar uma tarde de trabalho. Não consigo parar de ler :s
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