Está lá fora um homem que quer falar consigo. Deve ser para pedir dinheiro.
Os olhos tristes mas ávidos, absorventes. As roupas gastas, gasta também a pele manchada, o tom, a expressão, o cheiro. O chapéu, que as mãos envergonhadas escondiam, protegem a pélvis num jeito defensivo de ser subserviente.
Não damos esmolas.
O tom seco, de ataque, feriu o homem na dignidade, falhando, por pouco, o orgulho. Engoliu a saliva amarga, olhou o chão de madeira reluzente. O tempo para se recompor foi, na estratégia apressada da mulher, raciocínio lento.
Ando à procura de trabalho. Sou costureiro.
O golpe de surpresa que atingiu a interlocutora causou uma gargalhada, contida a custo num esgar sobranceiro.
Aqui somos todas costureiras!
A guerra perdida assim, num golpe desleal, sem retaliação.
No dia seguinte, um vestido amanhecia pendurado na porta. Perfeito no toque, na cor, na confecção, no esplendor, nas medidas da mulher vencedora.
Sem fecho, sem botões, um vestido que não se podia vestir.
"não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. eu não sei responder a todas as perguntas do mundo. pousa os lábios sobre a página. devagar,muito devagar. vamos beijar-nos."
segunda-feira, agosto 30, 2010
Costuras
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1 comentário:
Me encantó .Sencillo pero directo .Ya te echaba de menos .Besos .
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