quinta-feira, agosto 05, 2010

O colar

Quando chegou, bem cedo, para abrir a ourivesaria, havia um senhor de cabelo cor-de-gelo tão encostado à montra que parecia conseguir transpor as barreiras de grades e vidro, quase líquidas face àquela atenção tão ávida.

Esse colar é uma beleza, não é?

De tão sumido naquele momentâneo epicentro do seu mundo, o velho estremeceu. (Abalos de homem também acontecem.) Ergueu a boina, inclinou a cabeça e sorriu, culposo, um daqueles sorrisos envergonhados e frescos, perfeitos na sua sinestesia distraída.

Desculpe. Não o vi chegar. Sim, é tão bonito. Todas as manhãs páro para o ver, para ver se ainda está, se ainda ninguém o levou, coitado. 

Porque não o leva o senhor?

Para a minha neta, sim. É menina que merece. E que bem lhe ia ficar na pele morena. Mas não, na volta não quer, não é ao gosto. 

Falava em voz alta mas era para si próprio que o fazia, num monólogo que devia mais à persuasão que à velhice. Ergueu a boina, inclinou a cabeça e sorriu um sorriso de despedida, de obrigada e bom dia, ou vice-versa, coube ao ourives entender.

Ao entrar na padaria, mesmo ao lado, para comprar o pão, agitou no bolso, tristemente, a moeda de um euro que trazia.

3 comentários:

Mónica disse...

Es una historia muy enternecedora y triste . Por desgracia hoy en día hay mucha gente que quiere y no puede por el maldito dinero . Si yo pudiera le compraría el collar al señor para que pudiera lucirlo su nieta en su piel morena . Daba algo por ver la cara del anciano dándole el regalo a su niña .Nos vemos en unas horas . Besos .

Sarushka disse...

Para quando um livro cheio de histórias e de ternura? *

Anónimo disse...

tocante.
paabéns