Quando chegou, bem cedo, para abrir a ourivesaria, havia um senhor de cabelo cor-de-gelo tão encostado à montra que parecia conseguir transpor as barreiras de grades e vidro, quase líquidas face àquela atenção tão ávida.
Esse colar é uma beleza, não é?
De tão sumido naquele momentâneo epicentro do seu mundo, o velho estremeceu. (Abalos de homem também acontecem.) Ergueu a boina, inclinou a cabeça e sorriu, culposo, um daqueles sorrisos envergonhados e frescos, perfeitos na sua sinestesia distraída.
Desculpe. Não o vi chegar. Sim, é tão bonito. Todas as manhãs páro para o ver, para ver se ainda está, se ainda ninguém o levou, coitado.
Porque não o leva o senhor?
Para a minha neta, sim. É menina que merece. E que bem lhe ia ficar na pele morena. Mas não, na volta não quer, não é ao gosto.
Falava em voz alta mas era para si próprio que o fazia, num monólogo que devia mais à persuasão que à velhice. Ergueu a boina, inclinou a cabeça e sorriu um sorriso de despedida, de obrigada e bom dia, ou vice-versa, coube ao ourives entender.
Ao entrar na padaria, mesmo ao lado, para comprar o pão, agitou no bolso, tristemente, a moeda de um euro que trazia.
"não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. eu não sei responder a todas as perguntas do mundo. pousa os lábios sobre a página. devagar,muito devagar. vamos beijar-nos."
quinta-feira, agosto 05, 2010
O colar
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3 comentários:
Es una historia muy enternecedora y triste . Por desgracia hoy en día hay mucha gente que quiere y no puede por el maldito dinero . Si yo pudiera le compraría el collar al señor para que pudiera lucirlo su nieta en su piel morena . Daba algo por ver la cara del anciano dándole el regalo a su niña .Nos vemos en unas horas . Besos .
Para quando um livro cheio de histórias e de ternura? *
tocante.
paabéns
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