Não foi uma paixão à primeira vista, porque a vista não é dada a projectos sentimentais tal como o coração não tem pretensões de ver. Foi uma simpatia, uma empatia, um ímpeto que esvazia a mente.
Ela falava e ele sorria pelas palavras (dela) que via, coloridas, a pairar no ar.
Tens umas manchas no cabelo.
Foi dito de forma desinteressada, sem outros fins que não os de produzir som e demonstrar os seus dotes observadores. Nos ouvidos dele, porém, soou o apontar de uma falha, de um defeito que podia corrigir.
As duas manchas brancas eram, desde o berço, salpicos de originalidade, marcas de uma identidade criativa.
É para pintar.
No cabeleireiro, distraídos das singularidades daquele cabelo, fez-se a vontade de cliente para o encontro dessa noite chuvosa.
Ela, ao longe, sob um guarda-chuva que cedia a rugidos de tempestade, procurava as manchas brancas sem as encontrar. Ele, abrigado num alpendre improvisado, esperava vê-la passar. Desencontraram-se.
Semanas, meses, anos passaram e os cabelos brancos, assim negados, nunca mais voltaram a existir.
"não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. eu não sei responder a todas as perguntas do mundo. pousa os lábios sobre a página. devagar,muito devagar. vamos beijar-nos."
sábado, setembro 18, 2010
Singular
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1 comentário:
Tardaste 19 días en escribirlo , pero valió la pena .Sigue siendo tan buena pero no tardes tanto .te quiero . Muchos besos.
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