quarta-feira, abril 07, 2010

Sempre noite

Pousou o menino do lado de fora da porta e ajoelhou-se para lhe apertar o casaco. Assim, quase ao seu nível, sentia-se ainda mais pequena, ainda mais impotente. O pequeno rosto sorridente, a contraluz, parecia ainda mais despreocupado, ainda mais desprotegido.

Pensou em recolhê-lo, voltar para dentro, para o pijama, o peluche, a manta azul. Aquela noite tranquila parecia querer engolir-lhe o filho.

O som de passos a subir as escadas interrompeu-lhe o pensamento.

Vamos?

A criança voltou-se e balbuciou uma expressão de contentamento. A mãe estremeceu, encolheu-se ainda mais no sorriso falseado.

De mão dada, o menino tropeçou na primeira escada, caiu, chorou. Se falasse, podia jurar que foi o pessimismo que o empurrou.

4 comentários:

Jessica de Sá disse...

Às vezes só vemos o medo, às vezes é ele que nos faz cair.

Tatiana Ourique disse...

Deu-me um aperto enorme, quando li isto :(

nuno a. disse...

é bom ler o que escreves :)

sara disse...

é o meu preferido *